Tudo o que você coloca na internet pode ser usado contra você. Fotos de um momento festivo, discussões, tuítes atravessados. E há pouco espaço para voltar atrás, como percebeu tarde demais o congressista americano Anthony Weiner, após o mundo ver suas cuecas no Twitter.
"Nem com todo dinheiro do mundo é possível limpar uma reputação manchada na internet", diz o perito digital Wanderson Castilho, da E-Net Security.
A exposição virtual e a velocidade da web mudaram o conceito de reputação. "Nossa imagem está mais vulnerável. Pode ser confrontada com o que postamos", diz o sociólogo Sergio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC.
O conceito de reputação virtual não poderia estar mais em alta. O Google acaba de lançar uma ferramenta, a "Eu na Web", para que o usuário monitore o que falam dele por aí.
Há quem ganhe para cuidar da imagem alheia e limpar um passado virtual, como Owen Tripp, cofundador da Reputation.com, com sede nos EUA. "Temos 160 empregados especializados em reputação online. Monitoramos publicações, fazemos relatórios e enviamos alertas", disse à Folha. A limpeza de rastros pode custar de US$ 100 a US$ 10 mil, diz Tripp.
No Brasil, José Milagre, perito digital da Legaltech, diz que conserta até imagem de morto. "Trabalhamos com conteúdos positivos que empurram os resultados 'negativos' para baixo." Trocado em miúdos, significa manipular os resultados do Google para que os dados positivos da pessoa apareçam no topo de uma pesquisa.
Mas há casos que nem peritos resolvem.
Que o diga a apresentadora de TV Rose Leonel, 41, de Maringá (PR). Há cinco anos, fotos em que ela aparecia nua foram publicadas em 7 milhões de sites pornôs pelo mundo.
Segundo Rose, seu ex-namorado disparou 15 mil e-mails com as imagens para os moradores de Maringá.
"As pessoas me olham, eu já sei o que pensam. Não me olham como vítima. Condenam quem está exposto e não querem saber quem foi que expôs."
A apresentadora perdeu o emprego de colunista social. Em 2010, o ex foi condenado a um ano e 11 meses por difamação, mas recorreu.
Rose quer criar uma ONG para dar apoio jurídico e psicológico a mulheres que passaram pelo mesmo problema. E ainda há mais de 780 mil links relacionando pornografia ao seu nome, segundo o perito Castilho, que cuidou do caso. "Se o escândalo é muito grande, é impossível limpar. Eu digo: 'Rose, seus netos verão você nua.'"
A auditora fiscal Juliana Leite, 34, ficou conhecida pelo "Barraco de Sorocaba", vídeo postado por sua rival no YouTube, em julho de 2010.
Na gravação, Juliana é confrontada e apanha da então amiga, a advogada Vivian de Oliveira, 35, que a acusa de ter um caso com seu marido. "Foi uma humilhação. Na época, nem saía na rua."
Vivian está sendo processada por danos morais. O vídeo original já foi retirado do ar, mas há paródias no YouTube - a mais popular tem 142 mil visualizações.
É difícil prever a repercussão de uma postagem na rede. "Ainda não dominamos essa linguagem", diz a psicóloga Rosa Maria Farah, da PUC-SP.
Segundo Farah, isso justifica alguns deslizes e escândalos. Outra hipótese é a de que, quando estamos online, perdemos um pouco a capacidade de crítica.
"Há uma sensação de anonimato e privacidade quando se está online. É comum as pessoas entrarem em estado alterado de consciência, semelhante ao sonhar."
Para a psicóloga Dora Sampaio Góes, do Hospital das Clínicas de SP, gostamos mesmo de aparecer. "Queremos vender uma identidade."
O problema é confundir o íntimo com o social e tornar público o particular, segundo ela. "Usamos as redes sociais como se fossem nosso quarto. Há uma deturpação da noção de intimidade."
Owen Tripp diz mais: "O que antes escreviam na porta do banheiro vai hoje para o mural do Facebook."
E há um preço a pagar. A advogada Patricia Peck, especialista em direito digital, diz que falta a todos uma noção do risco real na internet. "As pessoas podem falar o que pensam, mas respondem pelo que dizem."
Faça a conta: se você tem 200 amigos no Facebook e cada um também tem 200, uma postagem sua pode chegar a 40 mil pessoas que você nem tem ideia de quem sejam.
Assustador, não? Mas não é preciso apagar o perfil em todas as redes sociais. Alex Primo, professor de comunicação da UFRGS, diz que é possível separar o profissional do pessoal em redes sociais com listas e configurações de privacidade.
Mas reconhece que a internet é um convite à exposição. "Quanto mais você se expõe, mais vantagens pode receber. Só posso usar ferramentas do Google se der os meus dados. O Facebook só é divertido quando atualizamos."
Fonte: Agência de Notícias (http://www.jornalfloripa.com.br/cienciaevida/index1.php?pg=verjornalfloripa&id=1057)
Uma alma aflita
Há um ano